Davyd Cesar Santos

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Polícia investiga morte de bebê em maternidade particular de SP.

Polícia investiga morte de bebê em maternidade particular de SP

Para pais, erros teriam causado a morte da filha aos 41 dias de vida; hospital nega.

SÃO PAULO - A Polícia Civil de São Paulo instaurou inquérito para investigar a morte da recém-nascida Maria Victória Santos Ribeiro, morta aos 41 dias de vida no Hospital e Maternidade Santa Joana, uma das maiores maternidades particulares da capital paulista, após ter nascida supostamente saudável. 

O técnico em telecomunicações Reginaldo Ribeiro da Silva, de 39 anos, e a analista de sistemas Erika Alvares Borges, de 35, pais da criança, dizem que o hospital teria cometido erros que provocaram a morte inexplicada.

A suspeita de mau atendimento levou a família a registrar boletim de ocorrência, pedir necropsia fora do hospital e acionar a Justiça para tentar descobrir o que aconteceu no hospital. Eles querem ter acesso a todas as imagens de dentro do berçário - sobretudo às da câmera que focava apenas o berço da filha.
Os pais também criaram uma página na internet, na qual relatam o que aconteceu na maternidade, e fizeram um perfil da criança em redes sociais para divulgar o caso e buscar respostas.

O laudo preliminar da morte da criança, elaborado pelo Instituto Médico-Legal (IML), aponta septicemia, broncopneumonia e fratura de ossos. O complementar deve ficar pronto em até 30 dias.

A ocorrência foi registrada na polícia no dia 23, como morte suspeita. Na quarta-feira, 8, o delegado titular do 6.º Distrito Policial, José Gonzaga Pereira da Silva Marques, afirmou que pedirá as gravações ao hospital e convocará a equipe médica que socorreu a menina para depor. As imagens podem ser enviadas para perícia técnica. 

Marques diz, porém, que somente com o laudo final da causa da morte, feito pelo IML, poderá concluir a investigação. “Vamos antecipadamente instaurar inquérito porque existem dúvidas dos pais que precisamos esclarecer. Estão suspeitando de lesões, marcas e fraturas que não ocorrem naturalmente em uma criança”, diz o delegado. O Santa Joana ainda não havia sido notificado até a noite de quarta-feira.

Histórico. Maria Victória nasceu no dia 13 de dezembro. Reginaldo e Erika dizem que escolheram o Santa Joana como maternidade para o parto - ao custa de R$ 9 mil - depois de visitarem três hospitais. 
“Mostraram-nos o berçário, o centro cirúrgico, os quartos. Escolhemos porque havia câmeras por todos os lugares, até mesmo filmando os berços dos bebês no berçário”, diz Reginaldo. 

De acordo com ele, a menina nasceu com peso normal e recebeu “nota 10” no atendimento pós-parto. O problema com o bebê teria ocorrido na madrugada do dia 15, quando o pai a levou para trocar a fralda no berçário, depois de ser amamentada.

“A auxiliar de enfermagem disse que a trocaria e a levaria de volta. Mas, como demorou, acabei adormecendo. Minha mulher e eu fomos acordados já de dia, com uma médica dizendo que o coração da nossa filha tinha parado de bater”, diz o pai.

A suspeita da família é de que a auxiliar de enfermagem tenha colocado a criança no bercinho e se descuidado quando a criança “escorregou”, tendo se sufocado com a coberta. Os pais reclamam de demora no socorro.

A equipe do hospital diz que a auxiliar de enfermagem desconfiou de hipotermia, porque as unhas do bebê estavam roxas, e chamou a médica de plantão, que verificou falta de oxigenação e decidiu levá-la à Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Lá, a menina foi entubada e medicada, porque estava com frequência cardíaca baixa.

Maria Victoria entrou em coma, teve convulsões e uma lesão na membrana pulmonar (por tentativa de reanimação). Depois, foi diagnosticada lesão cerebral. Nenhum exame realizado desvendou a doença original.

Médica nega erro: `Pai faz sensacionalismo` 

Coordenadora diz que equipe não encontrou a causa da morte e afirma que os pais assistiram às imagens do socorro 

O Hospital e Maternidade Santa Joana defende que não houve erro no atendimento à recém-nascida Maria Victoria Santos Ribeiro. Os médicos do hospital, porém, não descobriram a doença de base que causou a morte. 

Segundo a coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Suely Dornellas, todas as hipóteses de doenças congênitas levantadas pela equipe - que poderiam levar ao quadro neurológico da menina - foram descartadas após exames que atestaram a sua saúde. 

Primeiro, conta Suely, desconfiou-se de cardiopatia; depois, de infecção de origem materna, má-formação do sistema nervoso central e erro inato de metabolismo. A última suspeita foi de uma má-formação vascular no sistema nervoso central da criança, que não pôde ser verificada a tempo, afirma a médica.

Suely diz que o socorro foi feito em tempo hábil e com os procedimentos adequados, de acordo com decisões da equipe médica, contando com um neurologista particular pago pela família.

Ela afirma que os pais foram informados sobre os procedimentos e assistiram às imagens contínuas (sem cortes) gravadas no berçário e no corredor da maternidade, a partir do momento em que o pai entregou a filha aos cuidados da auxiliar de enfermagem na madrugada de 15 de dezembro. 

De acordo com Suely, a imagem da câmera que enquadrava Maria Victoria deitada no berço - a qual o pai dela ainda requisita acesso - não é gravada; apenas transmitida em tempo real ao monitor instalado na parede do quarto do hospital. 

``As imagens que ele (Reginaldo, o pai) tanto quis ver foram passadas. Ele está querendo criar um sensacionalismo em cima disso``, afirma Suely. ``Ele viu o tempo todo, junto com profissionais. Imagens contínuas.``

Suely nega que o bebê tenha sido carregado no colo da pediatra do berçário para a UTI - como o pai diz ter visto em gravação. ``Não. Está bem visível que foi num berço de transporte.``

Ela se disse surpresa com a informação, verificada pelo médico-legista do Instituto Médico-Legal (IML), de que Maria Victoria tinha os arcos costais quebrados. Segundo Suely, as fraturas nunca foram percebidas nas análise de exames de raio X feitos dentro do Santa Joana.

A médica nega também que a equipe tenha sonegado exames da menina solicitados pela família. ``Ele (Reginaldo) sabia de tudo. Fizemos reunião, passamos os exames pra ele, relatório, foi tudo protocolado. Desde o início ele já estava com outras intenções e a gente já sabia disso.``/ F.F.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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